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A carroça sem cavalos

Durante os dias mais frios do ano, um nevoeiro marítimo tomava conta da cidade. Eram em noites como essas que os moradores da rua Marcos Görresen, a popular Rua 10, eram acordados com o alto barulho de uma carroça.

O ruído se arrastava lentamente pela rua extensa e cortava o sono de toda a vizinhança. Um som estridente, arranhado e inconveniente fazia com que todos daquela rua levantassem da cama irritados rumo à janela espiar o que interrompeu seus descansos. Assim que miravam pelas frestas das cortinas, os moradores preferiam acreditar que ainda estavam sonhando ou que esquecessem o que haviam presenciado.

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A origem do barulho vinha de carroça, que não era locomovida por cavalos. Não havia nada a conduzindo. Em sua garupa, panelas velhas, baldes amassados, chaleiras e bules de monte eram levados. Eram tantas bugigangas, que algumas chegavam a ficar penduradas na lateral do veículo e eram responsáveis pelo barulho ensurdecedor. 

As frestas das cortinas eram rapidamente fechadas e preces feitas. Ninguém conseguia pregar o olho enquanto a carroça andava pela rua. Amedrontados com a manifestação sobrenatural diante de seus olhos, muitos entravam em choque e outros achavam que estavam alucinando. O fato é que muitos ainda dizem ouvir o barulho da carroça avançando pela madrugada.

Reza a lenda que há muito tempo havia um carroceiro que maltratava seu cavalo. Batia, beliscava e o provocava de monte. Os espíritos da natureza, vendo o sofrimento do animal, entraram no corpo do bicho, que, incorporado, deu um coice, acabando com o ciclo de violência em que vivia. O animal de grande porte correu rumo à liberdade e nunca mais foi encontrado. Com isso, a carroça ficou abandonada à procura da sua condução.

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