A mulher encantada
Há muito tempo, em uma casinha simples no Iperoba, vivia uma mulher encantadora. Seu rosto era um dos mais bonitos da região, mas ela tinha um hábito estranho… Nunca botou os pés na rua.
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A figura feminina era vista constantemente apoiada na porta, enquanto se lamentava e admirava a vida no exterior. A porta virou a moldura do seu corpo, ou melhor, de metade dele. Os curiosos eram impedidos de ver mais do que o necessário, pois apenas a parte superior da porta holandesa permanecia aberta, fazendo da parte de cima uma espécie de janela. A parte inferior nunca apresentou uma fresta sequer.
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A abertura permitia que a jovem ficasse apoiada por horas admirando o mar. Se alguém passava na rua, era quase que certo que encontraria a mulher debruçada chorando. Sim, lágrimas brotavam de seus olhos todas as vezes que sua visão encontrava as águas agitadas do vasto oceano.
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O motivo da infelicidade sempre foi um assunto que estava na boca do povo daquela região. A mulher não era daquelas terras e, dizem os antigos, de nenhuma outra. A forasteira encontrou uma paixão e deixou seu lar.
Abandonou tudo para viver solitária, trancada em uma casa e amarrada na tristeza. Um local bem claustrofóbico para quem antes percorria livremente as águas dos sete mares.
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A crença de que a mulher bonita da janela era uma sereia circulava constantemente nas rodas de conversas da sociedade. A ideia de que ela perdeu seu rabo de peixe ao ceder aos encantos amorosos de um humano aterrorizava a população. Nunca se soube o destino da mulher, ela não teve filhos e o único legado que deixou foi a saudade de nadar em seu habitat natural.