A Praga do Padre
Essa sem dúvida é uma das histórias mais conhecidas dos francisquenses. É aquela lenda contada a cada geração e que se mantém viva no imaginário e na crença popular. Para entendê-la é preciso voltar ao início do século XVIII, quando Domingos Francisco Francisques, o tão conhecido Cabecinha, recebeu o título de Capitão Mor, ou seja, recebeu um cargo de poder da região. Domingos já era uma pessoa ambiciosa, mas ao ser nomeado capitão, sua verdadeira face começou a aparecer.
Sua trajetória está manchada de atrocidades e repleta das mais diversas barbaridades. A com maior destaque foi cometida contra um padre. Certo dia, um parente de Cabecinha veio a falecer e, por se achar uma pessoa influente, solicitou ao padre que o corpo fosse enterrado dentro da igreja, assim como outras figuras importantes. Entretanto, o pedido foi prontamente negado.
![11 - Interior da Igreja N.Sra. da Graça (antigo).jpg](https://static.wixstatic.com/media/ac1c68_b07f61120d3243c5a71adb4a11a8aba7~mv2.jpg/v1/fill/w_829,h_513,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/ac1c68_b07f61120d3243c5a71adb4a11a8aba7~mv2.jpg)
![11 - Interior da Igreja N.Sra. da Graça (antigo).jpg](https://static.wixstatic.com/media/ac1c68_b07f61120d3243c5a71adb4a11a8aba7~mv2.jpg/v1/fill/w_829,h_513,al_c,q_85,usm_0.66_1.00_0.01,enc_avif,quality_auto/ac1c68_b07f61120d3243c5a71adb4a11a8aba7~mv2.jpg)
Assim como suas atrocidades são conhecidas por todos, seu pavio também não tinha uma das melhores reputações. Indignado com a negativa do sacerdote, Capitão Mor reuniu seus subordinados e ordenou que eles aplicassem uma lição no homem.
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O plano era simples. Eles iriam amarrar o religioso e o levariam a uma canoa. A embarcação seria lançada em direção à baía e a pobre figura ficaria à deriva no mar. Cabecinha queria que o padre se sentisse abandonado, rejeitado e humilhado da mesma forma que ele tinha se sentido ao ouvir o não.
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Em nenhum momento o sacerdote abaixou a cabeça ou implorou por misericórdia. Pelo contrário, para um sujeito que era a imagem da religiosidade do município, ele era o reflexo da revolta. O homem estava indignado com a violência e heresia que sofreu pelas mãos do capitão.
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E assim, rodeado pelo vasto oceano, sem comida, bebida ou algum instrumento que lhe pudesse ajudar, o padre exerceu sua vocação e começou a orar. No final, suas palavras não eram preces e súplicas, mas uma praga. Uma maldição que se perpetuaria durante anos na cidade. “Enquanto viver algum descendente de Cabecinha, esta terra jamais prosperará”. Uma fala reservada, até baixa para acompanhar a calmaria das águas, mas potente de significado. A cidade ao fundo, que não tinha nada a ver com o acontecido, assistia calada a sua condenação.
Não se sabe ao certo o que aconteceu com o religioso, mas o efeito de suas palavras foi sentido ao longo dos anos. De acordo com a crença popular, o último descendente do Cabecinha faleceu há alguns anos e, com isso, São Francisco do Sul voltou a crescer. Coincidência ou não, acredite se quiser, a cidade vive um momento promissor.