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Planejamentos supervisionados

A cidade francisquense é considerada uma das mais antigas do Brasil. Localizada no litoral norte de Santa Catarina, São Francisco do Sul é uma ilha continental com quase 500 km² de extensão. O município é rico em belezas naturais e arquitetônicas e seus atrativos encantam milhares de turistas todos anos. 

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As margens da Baía Babitonga - do tupi guarani baía do morcego, nomenclatura dada por conta do seu formato - e rodeado por morros, o centro histórico da cidade contempla mais de 400 imóveis tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN. São diversas residências, comércios e empresas situadas em casarões antigos e que chamam atenção pelas características das suas fachadas. 

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Área de tombamento definida pelo IPHAN

O conjunto arquitetônico do centro histórico é formado por construções dos séculos XVII, XVIII, XIX e XX. Quem o visita parece que voltou no tempo, sua arquitetura eclética traz traços de vários momentos e colonizadores que já passaram pelo local. 

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A proteção nacional destes imóveis veio através da lei nº 25 de 1937, que é a legislação de preservação do patrimônio histórico e cultural, em 1987. O tombamento da região não veio por causa de algumas construções em específico, mas pelo conjunto de diversas casinhas de estilo contemporâneo, eclético, gótico e colonial que compõem o centro.

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Para efeitos de preservação, o IPHAN mudou sua política na década de 80. A arquiteta e chefe técnica do escritório do instituto em São Francisco do Sul, Aline Figueiredo, explica que antes era seguido o processo de tombamento por monumentos, ou seja, era entendido como patrimônio apenas as edificações de grande porte e importância. Com as alterações, na qual São Chico se enquadra, o tombamento passou a considerar o valor quanto conjunto arquitetônico e paisagístico, além de apresentar características construtivas de valor histórico e artístico.

“O tombamento de São Francisco do Sul é um somatório de arquiteturas de vários estilos. Também é levado em conta a paisagem na qual o centro está inserido. Faz parte da paisagem de São Chico as casas, a Baía e os morros” - Aline Figueiredo

Ela destaca a importância e o peso que esse conjunto paisagístico tem. Os três elementos são levados em conta quando é analisado algum tipo de intervenção solicitada pelo morador. Aline frisa a relevância de preservar o que está garantido por lei, seja na altura dos imóveis ou nas cores que eles têm.  

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Qualquer pedido de mudança, reforma ou intervenção é analisado. Caso um proprietário queira colocar um letreiro, pintar a fachada ou trocar a esquadria, precisa apresentar um pedido formal ao IPHAN. Mesmo que a casa seja dele, essas pequenas mudanças vão alterar o conjunto tombado. 

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Apesar de bem conservado, o centro histórico sofreu muitas alterações ao longo dos séculos, seja por novas construções ou por demolições. O estilo eclético que predomina a paisagem arquitetônica local foi formado por várias mudanças, como explica Aline. 

É difícil a gente ter alguma arquitetura que seja um exemplar da arquitetura colonial, porque com as atividades portuárias, a cidade enriqueceu na década de 30 e 40. Então, muita coisa mudou. Muita coisa foi substituída e as casinhas, que não tinham muito luxo, deram lugar aos casarões sobrados

Quando o processo de tombamento foi selado, muitas construções não eram as mesmas do século XVIII ou XIX, mas a partir do momento que estão protegidas por lei, suas fachadas não podem ser mais alteradas. O tombamento compreende uma grande área da cidade e foi delimitada pelas quadras que mais concentravam imóveis históricos. Eles ficam, principalmente, entre dois morros e o mar.

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Aline brinca que a paisagem tem uma construção poética, nas quais os morros são o cenário, os casarões são os atores principais e o mar é plateia. As águas calmas da Babitonga admiram a proteção que as elevações cobertas por vegetação trazem aos francisquenses que residem naquelas casas.

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A arquiteta frisa a importância de preservar e cuidar do conjunto arquitetônico do centro de São Chico. Aqueles casarões fazem parte da identidade do município. Eles compõem a história e guardam memórias daqueles que passaram pelo local. Preservar o passado é uma forma de deixar alguns registros para as gerações futuras.

Se tu não preserva, tu perde a história e a gente é feito de história, né? Ela forma a nossa identidade e a nossa cultura

Quem nasceu, cresceu e vive pelas ruas históricas tem um apreço muito grande pelo centro. Os moradores defendem com unhas e dentes suas propriedades. Lutam pelas suas raízes, protegem seu passado e valorizam sua história. Eles reconhecem o tombamento e sabem da importância que esta medida tem para a cidade e para suas casas.

“Eu enxergo que as pessoas de São Chico poderiam ser mais defensoras do seu patrimônio, mas percebo que elas se sentem pertencentes do local e da história. Elas têm orgulho do que defendem e isso é incrível” - Aline Figueiredo

Para a historiadora Andréa de Oliveira, o centro histórico de São Francisco do Sul possui uma série de relevâncias e marcos temporais. É nele que o primeiro núcleo urbano da cidade é formado, onde as manifestações religiosas e mercantis da localidade são desenvolvidas. Ele tem uma grande simbologia por carregar a história da cidade. 

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São Chico tem em seu centro uma sucessão de prédios simbólicos que formam sua identidade e o início de seu povoado. Nele se encontra o poder máximo local, a sede da prefeitura. O raio de tombamento também abrange o mercado público, a Igreja Matriz e vários casarões que já pertenceram a grandes nomes da sociedade francisquense.

“São Francisco do Sul é o primeiro povoado de Santa Catarina. O estado nasceu aqui. Laguna e Florianópolis vieram posteriormente e é isso que a preservação dos seus casarões mostra: o seu reconhecimento histórico” - Andréa de Oliveira

A pesquisadora afirma que a história da cidade é mantida viva na lembrança de sua população não só pelo seu patrimônio histórico como também pelos momentos de festividade. O dia 15 de abril é comemorado durante uma semana na cidade. A Festilha, festa das tradições da ilha, celebra o reconhecimento da localidade como cidade. É uma comemoração da história local e de suas raízes. O evento reconhece a importância de todos aqueles que passaram pela região e que formou o que hoje conhecemos como São Chico. 


A memória e a história local permanecem vivas nos folclores, na gastronomia e nos conhecimentos populares. Na escola, o francisquense é ensinado desde pequeno sobre o seu passado, fazendo com que ele entenda o seu presente e preserve o seu futuro. A cultura local tem grande importância para a cidade. 

Nós somos perenes, não estamos aqui para sempre. Outras pessoas terão que preservar o nosso patrimônio. Você preserva aquilo que você conhece, aquilo que você gosta e que você ama. Então, é importante manter isso vivo nas escolas

A conservação e preservação dos casarões impactam no turismo da cidade, no interesse de quem vem de fora conhecer um pouco mais sobre o passado da cidade. A preservação dessas construções é um eterno lembrete do que se passou em São Francisco do Sul e o que fez ela se tornar a cidade que hoje é conhecida e amada pelos francisquenses. A conservação de seu patrimônio é uma afirmação de pertencimento e reconhecimento de todos os moradores que já passaram pela cidade.

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